A Ilusão do Outro como Salvador: Entre o Apego e a Presença

1️⃣ O vazio que pede salvação

Todos, em algum momento da vida, procuramos no outro o alívio que o silêncio interno não nos dá.
A dependência emocional é o reflexo dessa busca: a esperança de que alguém venha preencher o espaço do abandono que sentimos.

Mas esse espaço não é um defeito: é um convite. Um convite a reaprender a estar connosco.

2️⃣ A neurobiologia do apego

O cérebro humano é moldado pelo vínculo. Desde o nascimento, dependemos da presença do outro para regular o corpo e a emoção. Quando essa regulação falha, cria-se um vazio que se confunde com amor.
O adulto dependente repete o mesmo padrão infantil: procura segurança onde antes houve ausência. A dependência é a busca de um ritmo que perdeu. Por isso, o primeiro passo não é culpar-se, mas sim compreender a necessidade que está para além da dependência.

3️⃣ O ciclo da fusão

Na dependência emocional, a ligação torna-se fusão: a fronteira entre o eu e o outro dissolve-se. O corpo lê a separação como perigo e ativa o sistema de alarme. Viver assim é viver em oscilação constante, é viver com o medo de perder, de ficar só.

A prática é reconstruir o eixo interno. Respirar, sentir os pés no chão, regressar ao corpo, sentindo as sensações presentes.
A calma nasce quando deixamos de exigir ao outro aquilo que só nós mesm@s podemos oferecer-nos.

4️⃣ A solidão como espaço de cura

O silêncio é difícil porque nele não há distração – e, cada vez mais, estamos pouco habituados ao silêncio.
Contudo, é no silêncio que reencontramos a capacidade de autorregulação. A solidão torna-se fértil quando é habitada com consciência; deixa de ser vazio e transforma-se em presença: o amor verdadeiro não prende, acompanha.

5️⃣ O regresso à presença

A libertação da dependência não é através do distanciamento, é sim através da integração. É poder estar em relação sem se perder. O vínculo saudável é aquele que permite respirar, respirar em conjunto e em separado.

Proponho que faça o seguinte exercício:
Coloque uma mão no coração e outra no ventre.
Respire, lenta e profundamente, durante alguns momentos.

E, quando se sentir mais tranquil@ e em contacto consigo mesm@, repita silenciosamente:

“Sou presença. Sou a minha casa.”

Sinta o que acontece consigo, no seu corpo. Apenas observe, sem crítica, sem julgamento. Essa é a raiz da autonomia emocional.

6️⃣ O reencontro com o essencial

A dependência dissolve-se quando aprendemos a cuidar do nosso próprio silêncio.
Quando paramos, a mente acalma e o corpo reconhece: a salvação nunca esteve no outro, mas na forma como nos olhamos.

🕯️Retiro A Arte de Parar – o espaço entre o ruído e a clareza mental.
29 novembro 2025 | Matosinhos
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M. Conceição Viterbo, Psicóloga, Psicoterapeuta e Facilitadora de Mindfulness e Hipnoterapeuta Clínica.

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